A ciência da felicidade e o poder da gratidão

A psicologia positiva é um conceito relativamente novo que trata das emoções positivas das pessoas – e não dos seus problemas, traumas ou dificuldades. A partir daí começamos a falar de terapias como o Mindfulness, de emoções como a gratidão e das forças e virtudes de cada indivíduo, sempre enfatizando o lado positivo do ser humano. A psicologia positiva surgiu nos final dos anos 90, propondo uma mudança radical no foco do tratamento do ser humano. Ao invés de estudar distúrbios e patologias, que tal explorar aquilo que realmente faz a pessoa feliz, aquilo que faz o indivíduo funcionar melhor? A partir dessa mudança de paradigma, muitos pesquisadores, alinhados às premissas da psicologia positiva, mudaram seu jeito de pensar e começaram a levantar questões instigantes. O que faz pessoas felizes tornarem-se infelizes? O que fazer, de fato, para viver melhor e com mais qualidade de vida? Por que algumas pessoas são mais resilientes do que outras? Essa área do conhecimento, que agrega a pesquisa científica, passou a ser conhecida hoje em dia como a Ciência do Bem-Estar.

 Embora essas reflexões já fossem comuns entre os filósofos da Grécia Antiga, como Aristóteles, agora esses pensamentos renascem dentro da Ciência do Bem-Estar com o respaldo fundamental da pesquisa científica. É assim que, nos últimos anos, foram feitas descobertas muito importantes para a nossa vida, como o fato da gratidão fortalecer nosso sistema imunológico e até mesmo contribuir para a nossa longevidade. Outras emoções, como a alegria e o amor, também trazem importantes benefícios para a saúde física e mental do ser humano, como combater estresse, favorecer a saúde do coração ou estimular o aprendizado social. Tudo isso está provado por meio de pesquisas científicas. Será, então, que vale a pena colocar mais gratidão, alegria e amor na sua vida? Pense nisso.

 O psicólogo norte-americano Martin Seligman, também professor da Universidade da Pensilvânia e ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, é considerado pelos especialistas o “pai da psicologia positiva” – ou seja: a psicologia cujo foco são os fatores que contribuem para o bem-estar do ser humano. Seu trabalho começou a ser reconhecido e mundialmente difundido na década de 90. Com seu novo e inovador método de trabalho, Seligman tornou a busca pela felicidade do indivíduo seu principal objetivo. Segundo ele, quem mantem o foco em pensamentos e situações positivas tem mais chances de ser realmente feliz, apesar das dificuldades que cada um de nós enfrenta no nosso dia a dia. É uma teoria que algumas religiões defendem há muito tempo, assim como a chamada “Lei da Atração”, tão explorada nos dias de hoje por muitos terapeutas.

 Mas, afinal, o que é ser feliz? De acordo com Clóvis de Barros Filhos, professor Doutor da USP, filósofo, palestrante de prestígio e autor de dezenas de obras, entre elas “A vida que vale a pena ser vivida”, a definição é simples: “Felicidade é um instante de vida que você gostaria que durasse mais”. E acrescenta: “A vida vale a pena quando você torce para ela não acabar”. Além disso, esse estado de felicidade traz muitos benefícios para cada um de nós. Atualmente, quando todo mundo só fala da pandemia do coronavirus, é importante lembrar da forte ligação entre felicidade e saúde. Pessoas felizes são mais saudáveis. Há várias pesquisas que comprovam que as pessoas felizes sofrem menos de hipertensão, doenças cardíacas, diabetes e resfriados, entre outros males. As pessoas felizes também lidam melhor com a dor e a doença. E, por isso, suas doenças costumam ser menos graves, como atestam as pesquisas. Por isso mesmo, as pessoas felizes vivem mais. Mas há outros pontos importantes:

  • Trabalhadores felizes são mais produtivos;
  • Pessoas felizes são mais persistentes para resolver problemas;
  • Pessoas felizes são muito mais positivas.

 Na busca por essa felicidade, Seligman destaca a importância da gratidão. A gratidão, como expliquei no início desse texto, tem forte influência no fortalecimento do nosso sistema imunológico – como provam pesquisas científicas. Porém, é muito mais do que isso. Quanto mais grato você for pela sua vida atual, mais feliz você será e mais perto ficará de seus sonhos e novas conquistas de qualquer tipo. O próprio Seligman, em uma de suas palestras, sugere à sua plateia um exercício muito interessante. Eles devem fechar os olhos e lembrar de alguém que fez algo muito importante para sua vida, ajudando decisivamente cada um a chegar num caminho positivo para sua vida. Depois, em casa, estas pessoas deveriam escrever um depoimento com 300 palavras agradecendo este alguém do fundo do seu coração com palavras e emoções profundas, sinceras e que provavelmente ainda não teriam sido ditas e demonstradas, respectivamente. De acordo com ele, em geral as pessoas choram ao ouvir esse depoimento e, semanas ou meses depois, quando sua equipe testa as duas pessoas (a que faz o agradecimento e a que recebe) que passaram por este tipo de experiência, o resultado é incrível: ambos estão mais felizes e menos deprimidas.

 Portanto, não apenas segundo a psicologia positiva, mas também de acordo com diferentes terapias e crenças, a gratidão é um atalho que nunca deve ser esquecido na busca pela felicidade. O que é gratidão? É ser capaz de agradecer diariamente às pessoas e à vida que você tem, mesmo que você não a considere ideal. Ser grato é uma capacidade que, uma vez adquirida, transforma seu olhar sobre o mundo, sobre a vida, sobre as pessoas e sobre cada acontecimento que você presencia ou participa. O monge beneditino David Steindl-Rast vem divulgando, há anos, uma mensagem de gratidão muito importante, garantindo que ela é o caminho mais fácil e imediato para a felicidade. David é mundialmente notável por sua participação ativa no diálogo inter-religioso e seu trabalho sobre a interação entre espiritualidade e ciência. Ele explica que agradecer é parar sua vida por alguns instantes, todos os dias, para olhar ao redor e reconhecer as oportunidades que temos, e lembrar que, mesmo se algo dá errado, a vida logo nos envia uma nova oportunidade. Na pior das hipóteses, podemos ser gratos só por essa oportunidade de seguir adiante.

A partir do momento que começamos a ser gratos pelo que temos e aceitar melhor o que não temos passamos a ser mais felizes e de bem com a vida. Ser grato pelas coisas boas que acontecem na sua vida não significa que a vida é perfeita. Você pode ter diversos problemas e dificuldades. A questão é perceber, de verdade, o que cada um deles têm de bom e ser grato por isso.



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